quarta-feira, 17 de novembro de 2010

POMBAGIRA NOS CANDOMBLÉS ..... FACES INCONFESSAS DO BRASIL



|
 Personagens de duvidosa moralidade
O Brasil tem uma larga tradição católica de devoção aos santos, com os quais os fiéis estabelecem relações de favor e de troca que presumem sempre uma certa intimidade com as coisas do mundo sagrado. (Camargo et al., 1973) Com o espraiamento das tradições afro-brasileiras no curso deste século, parece que essa intimidade com personagens do mundo sagrado - agora sobretudo com divindades afro-brasileiras, com as quais os santos se sincretizam, mais os espíritos dos mortos - ter-se-ia intensificado. De fato, há uma infindável lista de famílias ou classes de entidades sobrenaturais com que fiéis brasileiros podem estabelecer relações religiosas e mágicas e contatos personalizados, especialmente através de cerimônias em que essas entidades se apresentam através do transe de incorporação: os cabo clos, pretos velhos, ciganos, príncipes, marinheiros, guias de luz, espíritos das trevas, encantados, além dos orixás e voduns.
A Pombagira, cultuada nos candomblés e umbandas, é um desses personagens muito populares no Brasil. Sua origem está nos candomblés, em que seu culto se constituiu a partir de entrecruzamentos de tradições africanas e européias. A Pombagira é considerada um exu feminino. O exu, na tradição dos candomblés de origem predominantemente iorubá (ritos Ketu, Efan e Nagô pernambucano), é o orixá mensageiro entre os homens e o mundo de todos os orixás. Os orixás são divindades identificadas com elementos da natureza (o mar, a água dos rios, o trovão, o arco-íris, o fogo, as tempestades, as folhas etc.) e sincretizados com santos católicos, Nossa Senhora e o próprio Jesus Cristo. Assim, Oxalá, o maior dos orixás, divindade da criação, é sincretizado com Jesus, e Iemanjá, a Grande Mãe dos orixás e dos brasileiros, com Nossa Senhora da Conceição. Exu, o orixá trickster, o que deve ser sempre homenageado em primeiro lugar, o orixá fálico, que gosta de confundir os homens, que só trabalha por dinheiro, é aquele sincretizado com o diabo.(1)
Na língua ritual dos candomblés angola (de tradição banto), o nome de exu é Bongbogirá. Certamente Pombagira (Pomba Gira) é uma corruptela de Bongbogirá, e o nome acabou por restringir-se à qualidade feminina de exu (Augras,1989). Na umbanda-formada, nos anos 30 deste século, do encontro de tradições religiosas afro-brasileiras com o espiritismo kardecista francês -, Pombagira faz parte do panteão de entidades que trabalham na "esquerda", isto é, que podem ser invocadas para "trabalhar para o mal", em contraste com aquelas entidades da "direita", que só seriam invocadas em nome do "bem". (Camargo, 1961: Prandi, 1991)
Dona Pombagira, que tem um lugar muito especial nas religiões afro-brasileiras, pode também ser encontrada nos espaços não religiosos da cultura brasileira: nas novelas de televisão, no cinema, na música popular, nas conversas do diaa-dia. Por influência kardecista na umbanda, Pombagira é o espírito de uma mulher (e não o orixá) que em vida teria sido uma prostituta ou cortesã, mulher de baixos princípios morais, capaz de dominar os homens por suas proezas sexuais, amante do luxo, do dinheiro e de toda sorte de prazeres.
No Brasil, sobretudo entre as populações pobres urbanas, é comum apelar-se à Pombagira para a solução de problemas relacionados a fracassos e desejos da vida amorosa e da sexualidade, além de inúmeros outros que envolvem situações de aflição. Estudar os cultos da Pombagira permite-nos entender algo das aspirações e frustrações de largas parcelas da população que estão muito distantes de um código de ética e moralidade embasado em valores da tradição ocidental cristã. Pois para dona Pombagira qualquer desejo pode ser atendido: não há limites para a fantasia humana.
Embora conserve do candomblé a veneração dos orixás, a umbanda, religião que desenvolveu e sistematizou o culto à Pombagira como entidade dotada de identidade própria, é uma religião centrada no culto dos caboclos e pretos velhos, além de outras entidades. Embora o candomblé não faça distinção entre o bem e o mal no sentido judaico-cristão, uma vez que seu sistema de moralidade se baseia na relação estrita entre homem e orixá, relação essa de caráter propiciatório e sacrificial, e não entre os homens como uma comunidade em que o bem do indivíduo está inscrito no bem coletivo (Prandi, 1991), a umbanda, por sua herança kardecista, preservou o bem e o mal como dois campos legítimos de atuação, mas tratou logo de os separar em departamentos estanques. A umbanda se divide numa linha da direita, voltada para a prática do bem e que trata com entidades "desenvolvidas", e numa linha da "esquerda", a parte que pode trabalhar para o "mal", também chamada quimbanda, e cujas divindades, "atrasadas" ou demoníacas, sincretizam-se com aquelas do inferno católico ou delas são tributárias. Essa divisão, contudo, pode ser meramente formal, como uma orientação classificatória estritamente ritual e com frouxa importância ética. Na prática, não há quimbanda sem umbanda nem quimbadeiro sem umbandista, pois são duas faces de uma mesma concepção religiosa.
Assim, estão do lado "direito" os orixás, sincretizados com os santos católicos, e que ocupam no panteão o posto de chefes de linhas e falanges, que são reverenciados mas que pouco ou nada participam do "trabalho" da umbanda, isto é, da intervenção mágica no mundo dos homens para a solução de todos os seus problemas, que é o objetivo primeiro da umbanda enquanto religião ritual. Ainda do lado do "bem" estão o caboclo (que representa a origem brasileira autêntica, o antepassado indígena) e o preto velho (símbolo da raiz africana e marca do passado escravista e de uma vida de sofrimentos e purgação de pecados). Embora religião surgida neste século, durante e em função do processo intenso de urbanização e industrialização, o panteão da umbanda é constituído sobretudo de entidades extraídas de um passado histórico que remonta pelo menos ao século XIX. Ela nunca incorporou, sistematicamente, os espíritos de homens e mulheres ilustres contemporâneos que marcam o universo das entidades do espiritismo kardecista.
De todas as classes de entidades da umbanda, que são muitas, certamente o preto velho é o de maior reconhecimento público: impossível não gostar de um preto velho, mesmo quando se trata de um não umbandista. Ele é sábio, paciente, tolerante, carinhoso. Já o caboclo (o índio) é antes de tudo valente, selvagem; destemido, intrépido, ameaçador, sério e muito competente nas artes das curas. O preto velho consola e sugere; o caboclo ordena e determina. O preto velho acalma, o caboclo arrebata. O preto velho contempla, reflete, assente, recolhe-se na imobilidade de sua velhice e de seu passado de trabalho escravo; o caboclo mexe-se, intriga, canta e dança, e canta e dança como o guerreiro livre que um dia foi. Os caboclos fumam charuto e os preto velhos, cachimbo; todas as entidades da umbanda fumam - a fumaça e seu uso ritual marcando a herança indígena da umbanda, aliança constitutiva com o passado do solo brasileiro.
Do panteão da direita também fazem parte os boiadeiros, os ciganos, as princesas. O boiadeiro é um caboclo que em vida foi um valente do sertão. Veste-se como o sertanejo, com roupa e chapéu de couro, e cumpre um papel ritual muito semelhante ao dos caboclos índios, que se cobrem de vistosos cocares e também são bons curadores. Ciganos, dizem o futuro mas não sabem curar; como os príncipes, estão acima das misérias terrenas. Marinheiros, sabem ler e contar e conhecem dinheiro, o que não acontece com nenhuma outra entidade, mas carregam muitos dos vícios do homem do mar: gostam de mulher da vida, bebem em demasia, são invariavelmente infiéis no amor e caminham sempre com pouco equilíbrio. Uma sua cantiga, imortalizada nas vozes de Clementina de Jesus e Caetano Veloso, diz:
Oh, marinheiro, marinheiro, marinheiro só
Quem te ensinou a nadar, marinheiro só?
Foi o tombo do navio
Ou foi o balanço do mar

Lá vem lá vem marinheiro só
Como ele vem faceiro
Todo de branco, marinheiro só
Com seu bonezinho
O lado da esquerda é povoado pelos Exus e Pombagiras, basicamente. Ambos são mal-educados, despudorados, agressivos. Falam palavrão e dão estrepitosas gargalhadas. Chegam pela meia-noite, os Exus com suas mãos em garras e seus pés semelhantes a cascos de animais satânicos, as Pombagiras com seus trajes escandalosos vermelhos e pretos, sua rosa vermelha nos longos cabelos negros, seu jeito de prostituta, ora do bordel mais miserável ora de elegantes salões de meretrício, jogo e perdição; vez por outra é a grande dama, fina e requintada, mas sempre dama da noite. Nas religiões afro-brasileiras, todo o cerimonial é cantado ao som dos atabaques, geralmente também dançado. As cantigas dos candomblés e os pontos-cantados da umbanda são instrumentos de identidade das entidades. Assim, canta-se para Pombagira quando ela chega incorporada:
De vermelho e negro
Vestida na noite o mistério traz
Ela é moça bonita
Oi, girando, girando, girando lá
Se, por vezes, tanto exus como Pombagiras podem vir muito elegantes e amigáveis, jamais serão, entretanto, confiáveis e desinteressados. Todo mundo tem medo de exu e Pombagira, ou pelo menos diz que tem. Desconfia-se deles, pois, se de fato são entidades diabólicas, não merecem confiança, mesmo quando deles nos valemos. Fazem questão de demonstrar animosidade. Conheci muitos exus que chamam todas as pessoas de "filho-da-puta", que é a maior ofensa que se pode fazer a um brasileiro. Exus e Pombagiras fazem questão de demonstrar o quanto desprezam aqueles que os procuram.
Há ainda um certo território de difícil demarcação que, embora formalmente situado na "direita", dá passagem para muitas entidades que se comportam como da "esquerda". Ora são exus metamorfoseados em caboclos, ora são marinheiros e baianos.
Se com os marinheiros já estamos em território muito próximo da linha da "esquerda", com os baianos é quase impossível saber-se ao certo. Baianos e baianas têm a aparência de caboclos e pretos velhos, mas se comportam como exus e Pombágiras. Lembrando que as giras (sessões rituais de transe com canto e dança) são organizadas separadamente para entidades da direita e da esquerda, pode-se imaginar que os baianos - de criação muito recente, mas com uma popularidade que já quase alcança a dos caboclos e pretosvelhos - são uma espécie de disfarce pelo qual exu e Pombagira podem participar das giras da direita sem serem molestados. Se um dia a umbanda separou o "bem" do "mal", com a intenção indisfarçável de cultuar a ambos, parece que, com o tempo, ela vem procurando apagar essa diferença. Os baianos representariam essa disposição. De fato, os baianos são as entidades da direita mais próximas da esquerda em termos do comportamento estereotipado: são zombeteiros, relacionam-se com seus fiéis e clientes não escondendo seu escárnio por eles, falam com despudor em relação às questões de caráter sexual, revelando com destemperança, para quem quiser ouvir, pormenores da intimidade das pessoas. Um dia, numa gira, uma baiana de nome Chica me disse que a confundiam com Pombagira - coisa que ela não era - só porque preferia os homens sexualmente bem dotados. Dizia que fala muita besteira porque as pessoas gostavam de ouvir besteiras, bebia muito porque as pessoas gostavam de beber, e falava das intimidades porque as pessoas gostavam de se exibir mas não tinham coragem para isso. "E o senhor, não acha que isso é muito bom?", me perguntava. "Então! Porque eu gosto mesmo é de ajudar os outros."
Pombagira no universo dos éxus e dos eguns
Antes de mais nada, Pombagira é um exu, ou melhor, um exu-mulher, como ela mesma gosta de ser chamada. Como exu, compõe um riquíssimo e muito variado panteão de diabos, em que não somente aparece como um dos exus, mas é também casada com pelo menos um deles. Na concepção umbandista, exu é um espírito do mal, um anjo decaído, um anjo expulso do céu, um demônio, enfim. De Pombagira se diz ser mulher de demônios e morar no inferno e nas encruzilhadas, como esclarecem suas cantigas:
A porta do inferno estremeceu
O povo corre pra ver quem é
Eu vi uma gargalhada na encruza
É Pombagira, a mulher do Lucifer
[pesquisa de campo]

Ela é mulher de sete Exu
Ela é Pomba Gira Rainha
Ela é Rainha das Encruzilhadas
Ela é mulher de sete exu
[Molina, s/d, p. 25]

O candomblé tem pouquíssima preocupação em construir um corpo teórico doutrinário e uma organização teológica das suas entidades, e o culto da Pombagira segue de perto o culto dos orixás, assentado em mitos e tradições de origem presumidamente africana, não existindo praticamente nada escrito sobre Pombagira. A umbanda, entretanto, dispõe de vasta bibliografia também sobre Pombagira. Essa literatura desenvolve primariamente a idéia de um panteão sincrético dos exus, dos quais Pombagira é um, e oferece minuciosos preceitos rituais. Há, ainda, discos disponíveis com os pontos cantados.
Segundo essa literatura, a entidade suprema da "esquerda" é o Diabo Maioral, ou Exu Sombra, que só incorpora raramente. Ele tem como generais: Exu Marabô, ou diabo Put Satanaika, Exu Mangueira, ou diabo Agalieraps, Exu-Mor, ou diabo Belzebu, Exu Rei das Sete Encruzilhadas, ou diabo Astaroth, Exu Tranca Ruas, ou diabo Tarchimache, Exu Veludo, ou diabo Sagathana, Exu Tiriri, ou diabo Fleuruty, Exu dos Rios, ou diabo Nesbiros, e Exu Calunga, ou diabo Syrach. Sob as ordens destes, e comandando outros mais, estão: Exu Ventania, ou diabo Baechard, Exu Quebra Galho, ou diabo Frismost, Exu das Sete Cruzes, ou diabo Merifild, Exu Tronqueira, ou diabo Clistheret, Exu da Sete Poeiras, ou diabo Silcharde, Exu Gira Mundo, ou diabo Segal, Exu das Matas, ou diabo Hicpacth, Exu das Pedras, ou diabo Humots, Exu dos Cemitérios, ou diabo Frucissière, Exu Morcego, ou diabo Guland, Exu das Sete Portas, ou diabo Sugat, Exu da Pedra Negra, ou diabo Claunech, Exu da Capa Preta, ou diabo Musigin, Exu Marabá, ou diabo Huictogaras, e o nosso Exu Mulher, Exu Pombagira, simplesmente Pombagira, ou diabo Klepoth. Mas há também os exus que trabalham sob as ordens do orixá Omulu, o senhor dos cemitérios, e seus ajudantes Exu Caveira ou diabo Sergulath, e Exu da Meia-Noite ou diabo Hael, cujos nomes mais conhecidos são Exu Tata Caveira (Proculo), Exu Brasa (Haristum), Exu Mirim (Serguth), Exu Pemba (Brulefer) e Exu Pagão ou diabo Bucons. (Fontennelle, s/d; Bittencourt, 1989;Omolubá, 1990)
Cada Exu tem características próprias, cantigas e pontos-riscados (desenhos feitos a giz com os elementos simbólicos da entidade). Cada um cuida de determinadas tarefas, sendo grande e complexa a divisão de trabalho entre eles. Por exemplo, Exu Veludo oferece proteção contra os inimigos. Exu Tranca Ruas pode gerar todo tipo de obstáculos na vida de uma pessoa. Exu Pagão tem o poder de instalar o ódio no coração das pessoas. Exu Mirim é o guardião das crianças e também faz trabalhos de amarração de amor. Exu Pemba é o propagador das doenças venéreas e facilitador dos amores clandestinos. Exu Morcego tem o poder de transmitir qualquer doença contagiosa. Exu das Sete Portas facilita a abertura de fechaduras, cofres e outros compartimentos secretos - materiais e simbólicos. Exu Tranca Tudo é o regente de festins e orgias. Exu da Pedra Negra é invocado para o sucesso em transações comerciais. Exu Tiriti pode enfraquecer a memória e a consciência. Exu da Capa Preta comanda as arruaças, os desentendimentos e a discórdia.
Pombagira trata dos casos de amor, protege as mulheres que a procuram, é capaz de propiciar qualquer tipo de união amorosa e sexual.
Nos terreiros, os nomes dos demônios são muito pouco conhecidos e me parece que poucos iniciados se interessam por eles. As hierarquias e ordens dos exus também são pouco consideradas. Em geral, seguindo tradições do candomblé e da umbanda, o exu mais importante de um terreiro é o exu do fundador ou do chefe do terreiro, a este se subordinando os exus dos filhos-de-santo, podendo cada iniciado ter mais de um exu. Nos candomblés da nação angola (Prandi, 1991) e na maioria dos terreiros de umbanda, o iniciado tem um exu masculino e uma Pombagira, além do orixá principal, orixá secundário (juntó), caboclo etc. Nessas modalidades das religiões afro-brasileiras, o mesmo iniciado entra em transe de muitas entidades e uma gira muito se assemelha a um grande palco do Brasil, povoado por tipos populares das mais diferentes origens.
Todos os exus são donos das encruzilhadas, onde devem ser depositadas as oferendas que lhes são dadas, porém, dependendo da forma e da localização da encruzilhada, ela pode pertencer a este ou àquele exu. Todas as encruzilhas em forma de T pertencem a Pombagira. A EncruzaMaior, uma encruzilhada em T em que cada uma das ruas que a formam nascem de encruzilhadas também em T, é onde reina a maior das Pombagiras, a Rainha, em respeito à qual nenhuma oferenda destinada a outras Pombagiras pode ser ali depositada, sob o risco de mortal castigo.
Pombagira é singular mas é também plural. Elas são muitas, cada qual com nome, aparência, preferências, símbolos e cantigas particulares. Entre dezenas, as Pombagiras mais conhecidas são:

Pombagira Rainha
Maria Padilha
Pombagira Sete Saias
Maria Molambo
Pombagira da Calunga
Pombagira Cigana
Pombagira do Cruzeiro
Pombagira Cigana dos Sete Cruzeiros
Pombagira das Almas
Pombagira Maria Quitéria
Pombagira Dama da Noite
Pombagira Menina
Pombagira Mirongueira
Pombagira Menina da Praia.

Mas os exus, e mais precisamente muitas Pombagiras, podem também ser considerados eguns, ou seja, espíritos de mortos, alguns de biografia mítica bem popular.
Maria Padilha, talvez a mais popular das Pombagiras, é considerada espírito de uma mulher muito bonita, branca, sedutora, e que em vida teria sido prostituta grã-fina ou influente cortesã. A escritora Marlyse Meyer publicou em 1993 seu interessante livro Maria Padilha e toda a sua quadrilha, contando a história de uma amante de Pedro I (1334-1369), rei de Castela, a qual se chamava Maria Padilha. Seguindo uma pista da historiadora Laura Mello e Souza (1986), Meyer vasculha o Romancero General de romances castellanos anteriores al siglo XVIII, depois documentos da Inquisição, construindo a trajetória de aventuras e feitiçaria de uma tal dona Maria Padilha e toda a sua quadrilha, de Montalvan a Beja, de Beja a Angola, de Angola a Recife, e de Recife para os terreiros de São Paulo e de todo o Brasil. O livro é uma construção literária baseada em fatos documentais no que diz respeito à personagem histórica ibérica e em concepções míticas sobre a Padilha afro-brasileira. Evidentemente não encontra provas, e nem pretende encontrá-las, de que uma é a outra. Talvez um avatar imaginário, isto sim. E que pode, quem sabe, vir a ser, um dia, incorporado à mitologia umbandista.
Autores umbandistas, muitas vezes, conforme suas palavras, orientados pelas próprias entidades, publicam ricas e imaginosas biografias de Pombagira. Assim, Maria Molambo, uma Pombagira que sempre se veste de trapos, teria sido, no final do peíodo colonial brasileiro, a noiva prometida de um influente herdeiro patriarcal que, apaixonada por outro homem, com ele fugiu de Alagoas para Pernambuco. Perseguido incansavelmente pela família ultrajada e desejosa de vingança, o casal foi encontrado três anos e meio depois. O jovem amante foi morto, enquanto a moça era levada de volta ao pai, que cuspiu em seu rosto e a expulsou de casa para sempre. Como tinha uma filha pequena que sustentar, Rosa Maria - este era seu nome - submeteu-se a trabalharem casa de parentes na cidade de Olinda. Com a morte da filha viu-se de novo na rua, prostituindo-se para sobreviver. Tuberculosa e abandonada, foi enfim localizada por parentes para receber a herança dos pais mortos. Rica, ter-se-ia dedicado à caridade até sua morte, quando então, no outro mundo, conheceu Maria Padilha e entrou para a linha das Pombagiras. (Omolubá, 1990)
Embora sejam muitas as versões sobre a personagem Pombagira, ela sempre aparece relacionada à prostituição, como sugere esta cantiga:

Disseram que iam me matar
Na porta do cabaré
Passei a noite lá
E ninguém me matou
[pesquisa de campo]
Seu caráter de entidade perigosa e feiticeira, com a qual se deve tomar muito cuidado, também é sempre marcado:

Pombagira é a mulher de sete maridos
Não mexa com ela
Ela é um perigo
[pesquisa de campo]
Pombagira girou
Pombagira girou no congá da Bahia
Pombagira vem de longe
pra fazer feitiçaria
[pesquisa de campo]
Pombagira vem sempre para trabalhar e trabalharcontra aqueles que são seus inimigos e inimigos de seus devotos. Considera seus amigos todos aqueles que a procuram necessitando seus favores e que sabem como agradecer-lhe e agradá-la. Deve-se presentear Pombagira com coisas que ela usa no terreiro, quando incorporada: tecidos sedosos para suas roupas, nas cores vermelho e preto, perfumes, jóias e bijuterias, champanhe e outras bebidas, cigarro, cigarrilha e piteiras, rosas vermelhas abertas (nunca botões), além das oferendas de obrigação - os animais sacrificiais (sobretudo no candomblé) e os despachos deixados nas encruzilhadas, cemitérios e outros locais, a depender do trabalho que se faz, sempre iluminados por velas vermelhas, pretas e, às vezes, brancas.
Para ser-se amigo e devoto de Pombagira é preciso ter uma causa pela qual ela possa trabalhar, pois é o feitiço que a fortalece e lhe dá prestígio:

Demandas ela não rejeita
Ela gosta de demandar
Com seu garfo formoso
Seus inimigos gosta de espetar
[Omolubá, 1990, p. 70]

Eu quero filho pra defender
E amigos pra espetar
Eu é Rainha das Sete Encruzilhadas
É lá que eu faço a minha morada
[ibidem, p. 71 ]
Não há mãe-de-santo ou pai-de-santo que admita trabalhar para o mal. O mal, quando acontece, é sempre uma conseqüência do bem, pois as situações que envolvem os exus são sempre situações contraditórias. (Trindade, 1985) Se uma mulher está apaixonada por um homem comprometido e procura ajuda no terreiro, a única responsabilidade da mãe-de-santo e da Pombagira é a de atender à súplica de quem faz o pedido. Se a outra mulher tiver que ser abandonada, a culpa é dela mesma, que não procurou a proteção necessária, não tendo assim propiciado as entidades que a deveriam defender. Quando duas ou mais pessoas estão engajadas em pólos opostos de uma disputa, declara-se acirrada demanda (disputa, guerra) entre os litigantes humanos e seus protetores sobrenaturais. As demandas que envolvem questões amorosas são um campo específico de atuação da Pombagira. Questões de bem e de mal são irrelevantes:
Ela é Maria Padilha
De sandalhinha de pau
Ela trabalha para o bem
Mas também trabalha para o mal.
[ibidem, p.70]
Pombagira, como praticamente todas as entidades que baixam nos terreiros de umbanda, sempre vem para trabalhar, isto é, ajudar através da magia a quem precisa de ajuda e vaiem busca dela. O conceito de "trabalho", isto é, uma prática mágica que interfere no mundo, é central na umbanda e na construção de suas entidades. (Prandi, 1991; Pordeus Jr., 1993) Há sempre um grande número de pontos-cantados que se referem a essa "missão", como este:

É na banda do mar
E, é, é na umbanda
Vem, vem da quimbanda
Pombagira vem trabalhar
[Molina, p.55]
Pombagira, entretanto, não vive só de feitiços, ela não vem só para "trabalhar". Nas grandes festas de exu e Pombagira, especialmente nos terreiros de candomblé em que há o costume de se oferecer apenas uma grande festa anual para essas entidades, Pombagira vem para se divertir, dançar e ser apreciada e homenageada, conforme o padrão do culto aos orixás, os quais jamais dão consultas, conselhos ou receitas de cura durante o transe de possessão. Um toque de pombagira sempre tem o clima de festa e diversão, apesar do clima geralmente sombrio e das expressões muito estereotipadas do transe. (Arcella, 1980) É assim que Pombagira se expressa nessas ocasiões:

Com meu vestido vermelho
Eu venho pra girar
Com meu colar, brinco e pulseira
Eu venho pra girar

Eu uso os melhores perfumes
Para a todos agradar
Eu sou a Pombagira
Eu venho pra girar

Este é o meu destino
O meu destino é este
É me divertir
Bebo, fumo, pulo e danço
Pra subsistir
Assim cumpro o meu destino
Que é me divertir
[pesquisa de campo]
Sempre se diz que quem é amigo de Pombagira alcança todos os seus favores, mas quem é seu inimigo corre sério risco. Em decorrência, é muito freqüente, entre os adeptos, atitudes de medo e respeito para com Pombagira, mesmo quando dela não se pretende qualquer favor:

Quem não me respeitar
Oi, logo se afunda
Eu sou Maria Padilha
Dos sete cruzeiros da calunga

Quem não gosta de Maria Padilha
Tem, tem que se arrebentar
Ela é bonita, ela é formosa
Oh! bela, vem trabalhar.
[Ribeiro, 1991, p. 84]
Não é raro o envolvimento da Pombagira em casos de polícia e seu aparecimento em reportagens, novelas e séries de televisão. Num desses notórios casos, ocorrido no Rio de Janeiro em 1979 e amplamente discutido na literatura antropológica (Contins, 1983; Contins & Goldman, 1995; Maggie, 1992), um homem foi assassinado a mando da mulher por causa da sua suposta impotência sexual. Entre os envolvidos no crime havia uma mulher que recebia Pombagira, que teria fornecido pós e trabalhos mágicos para o assassinato, mas como os pós e trabalhos mágicos não haviam dado certo, a própria Pombagira teria sugerido, conforme depoimentos dos implicados, o uso do revólver. O comerciante foi morto a tiros desfechados por uma outra mulher, depois do fracasso de um jovem faxineiro. Durante os trâmites na polícia e no judiciários, além dos personagens em carne e osso compareceu Pombagira, em transe. Acodem, a pedido das autoridades, um psiquiatra, um pai-de-santo e um pastor evangélico. Os envolvidos acabam condenados. O caso, além do enorme interesse popular despertado, ensejou a produção dos mais variados discursos sobre a Pombagira (ou sua participação no crime): o mágico-religioso, o jornalístico, o jurídico, o psiquiátrico e o antropológico. Como o povo que certamente ela representa e simboliza, dona Pombagira, nesse caso, não se esgota em nenhuma dessas fontes de explicação, populares ou eruditas. Mas fica bem claro que, ainda que Pombagira seja uma entidade espiritual de baixo nível hierárquico de religiões de baixo prestígio social, sua presença no imaginário extravasa os limites dos seus seguidores para fazer-se representar no pensamento das mais diversas classes sociais do país.
O que Pombagira pode fazer pelos mortais? Favores e oferendas
Pode-se pedir de tudo à Pombagira, como a qualquer divindade ou entidade afro-brasileira, mas sua fama está muito colada às questões de afeto, amor e sexualidade.
Quando se recorre à Pombagira, busca-se o conforto de três maneiras: 1) consultando-se com ela durante uma gira ou toque, em que ela está presente pelo transe, em sessões que ocorrem muito tarde da noite, geralmente às sextas-feiras; 2) em contato com ela em sessão reservada, geralmente à tarde, quando o terreiro oferece consultas privadas; 3) tendo o pai ou mãe-de-santo como intermediador, que podem usar o jogo de búzios, oráculo dos orixás (Prandi, 1994), o que acontece quando se trata de terreiro mais próximo de práticas do candomblé. A um pedido sempre corresponde algum tipo de oferenda. Vejamos, a título de ilustração, três fórmulas para se alcançarem favores de Pombagira.
1) Oferenda para Pombagira Cigana prender um homem ao lado de uma mulher para sempre: Perto da meia-noite, numa encruzilhada em forma de T, depois de pedir licença ao dono supremo de todas as encruzilhadas, exu, recitar ou cantar dois pontos de Pombagira e depois arriar, sobre uma toalha de cores vermelho e preto, um batom, um par de tamancos, um par de brincos, sete velas vermelhas, uma garrafa de cachaça, vinho ou champanhe, sete fitas vermelhas e sete rosas vermelhas. Fazer o pedido e se afastar de costas. (Alkimin, 1993, p. 26)
2) Oferenda a Pombagira Sete Saias para transformar uma inimiga em grande amiga: Preparar uma farofa de farinha de mandioca crua misturada com mel e arrumar no centro de um alguidar (prato de barro). Em volta colocar sete velas brancas, sete fitas de cores diferentes, sete rosas vermelhas, uma garrafa de champanhe e uma cigarrilha. Arriar numa encruzilhada em T, depois de pedir licença a exu, numa noite de sábado ou segunda-feira. (ibidem, p. 34)
3) Trabalho para Pombagira Calunga do Mar para despertar o interesse sexual de um homem: Numa meia-noite de segunda-feira arriar na praia, depois de pedir licença a Ogum Beira-Mar e Iemanjá, um prato de barro contendo um limão, um maço de cigarros, sete contas de porcelana, um pente e um batom. Entrar na água e entregar, uma a uma, doze rosas amarelas. Junto ao prato, acender sete velas vermelhas. (ibidem, p. 42)
A umbanda praticamente eliminou o sacrifício ritual, por isso Pombagira tem sua "dieta" limitada aos seguintes alimentos: farofa de farinha de mandioca com azeite de dendê e pimenta, que é o padê, comida predileta de Exu; farofa de farinha de mandioca com mel; aguardente, vinho branco ou champanhe (cidra, uma espécie de champanhe barata feita de maçã); carne crua com azeite de dendê e pimenta; farofa com carne-seca desfiada e pimenta; coração de boi assado na brasa, com sal e pimenta. No candomblé, entretanto, Pombagira recebe sacrifício votivo de galinhas pretas e, quando se pretende atingir objetivos mais difíceis, de cabras pretas e novilhas. Na umbanda a oferenda de alimento preferencialmente vai para um lugar fora do terreiro (encruzilhada, praia etc.), mas no candomblé as comidas são depositadas ao "pé da Pombagira", isto é, junto às suas representações materiais compostas de boneca de ferro (geralmente com chifres e rabo, como o diabo), tridentes arredondados de ferro, lanças de ferro e correntes (elementos presentes também nos pontos-riscados), representações que permanecem guardadas, longe dos olhos dos não iniciados, nas dependências reservadas para o culto de exu.
Descobrir qual é a oferenda certa para agradar Pombagira e assim conseguir o favor almejado representa sempre um grande desafio para os pais e mães-de-santo que presidem os cultos. O prestígio de muitos deles vem da fama que alcançam por serem considerados, por seguidores e clientes, bons conhecedores das fórmulas corretas para esse agrado.
Conclusão: o mundo de Pombagira e dos exus e o mundo dos homens
Se tanto os exus masculinos como os variadíssimos avatares, formas e invocações de Pombagira, o Exu-Mulher, estão sincretizados com o demônio católico, no dia-a-dia dos terreiros esse dado tem importância muito secundária. Esses diabos nem são tão maus e nem seu culto soa estranho para os fiéis. Penso que ninguém se imagina fazendo alguma coisa errada ao invocar, receber em transe, cultuar ou simplesmente interagir com Pombagira. Quando um devoto invoca exu e Pombagira, dificilmente tem em mente estar tratando com divindades diabólicas que impliquem qualquer aliança com o inferno e as forças do mal. Na verdade, o que se observa é uma grande intimidade com os exus, aponto de os fiéis a eles se referirem carinhosamente e muito intimamente como "os compadres".
Nos terreiros de umbanda e nos candomblés que cultuam as formas umbandizadas de exu, a concepção mais generalizada de Pombagira é de que se trata de uma entidade muito parecida com os seres humanos. Ela teria tido uma vida passada que espelha certamente uma das mais difíceis condições humanas: a prostituição. Mas é justamente essa condição que lhe permitiu total conhecimento e domínio de uma das mais difíceis áreas da vida das pessoas comuns, que é a vida sexual e o relacionamento humano fora dos padrões sociais de comportamento aceitos e recomendados. Assim, acredita-se que Pombagira é dotada de uma experiência de vida real e muito rica, que a maioria dos mortais jamais conheceu, e por isso seus conselhos e socorros vêm de alguém que é capaz, antes de mais nada, de compreender os desejos, fantasias, angústias e desesperos alheios.
Para Monique Augras, Pombagira representa uma espécie de recuperação brasileira de forças e características de divindades africanas que, no Brasil, no contato com a civilização católica, teriam passado por um processo de "cristianização". Ela está se referindo às Grandes Mães, as poderosas e temidas Iyami Oshorongás dos Ioruba, quase esquecidas no Brasil, e Iemanjá, que ao se aclimatar no Novo Mundo perdeu muitos de seus traços originais, modelando-se a um sincretismo com Nossa Senhora que a tornou uma mãe quase assexuada, muito diferente da figura africana sensual, envolvida em casos de paixões avassaladoras, infidelidade, incesto e estupro. (Augras, 1989)
Com Pombagira, no plano do ritual desenvolvido para se atuar no controle do cotidiano, assegura-se o acesso às dimensões mais próximas do mundo da natureza, dos instintos, aspirações e desejos inconfessos, o que aqui estou chamando de faces inconfessas so Brasil. O culto de Pombagira revela, de modo muito explícito, esse lado "menos nobre" da concepção popular de mundo e de agir no mundo entre nós, o que é muito desautorizador dos estereótipos de brasileiro cordial, bonzinho, solidário e pacato. Com Pombagira, guerra é guerra e salve-se quem puder.
Devemos lembrar-nos que as religiões afrobrasileiras são religiões que aceitam o mundo como ele é. Este mundo é considerado o lugar onde todas as realizações pessoais são moralmente desejáveis e possíveis. O bom seguidor das religiões dos orixás deve fazer todo o possível para que seus desejos se realizem, pois é através da realização humana que os deuses ficam mais fortes e podem assim mais nos ajudar. Esse empenho em ser feliz não pode enfraquecer-se diante de nenhuma barreira, mesmo que a felicidade implique o infortúnio do outro. De outro lado, o código de moralidade dessas religiões, se é que é possível usar aqui a idéia de moralidade, estabelece uma relação de lealdade e reciprocidade entre o fiel e suas entidades divinas ou espirituais, nunca entre os homens como comunidade solidária. (Prandi, 1991) Na própria constituição dessas religiões no Brasil, o culto dos ancestrais (egunguns) como a dimensão religiosa controladora da moralidade, tal como na África de então e sobretudo nas regiões de cultura iorubá, foi, em grande parte, perdido, primeiro porque a moralidade no mundo escravista estava sob o controle estrito do mundo do branco, com sua religião católica, esta sim a grande fonte de orientação do comportamento; segundo porque a escravidão desagregava a família e destruía as referências clânicas e tribais, essenciais no culto do ancestral egungun. Vingou, das religiões negras originárias, o culto dos orixás (e voduns e inquices, estes diluídos e substituídos pelos orixás), centrado na pessoa e na idéia já contemporânea de reforçamento da individualidade através do sacrifício iniciático, no candomblé, e depois pela troca clientelística, na umbanda. De fato, as religiões afro-brasileiras espelham muito as condições históricas de sua formação: religiões de subalternos (primeiro os escravos, depois os negros livres marginalizados, mais tarde os pobres urbanos), que se formam também como religiões subalternas, isto é, no mínimo, religiões tributárias do catolicismo, que até hoje, em grande medida, aparece como a religião que dá identidade ao seguidores dos cultos afro-brasileiros. Quando as-religiões dos orixás e voduns eram religiões de grupos negros isolados (mais ou menos até quarenta ou cinqüenta anos atrás), o catolicismo-além de ser a face voltada para o mundo branco exterior, dominante e ameaçador, era ainda o elemento que, tendo o sincretismo como instrumento operador, rompia com esse isolamento sócio-cultural para fazer de todos, mais que negros, participantes de uma identidade nacional: ser brasileiro. Mais tarde, quando as religiões afro-brasileiras romperam com as barreiras de cor, geografia e origem, produzindo-se suas novas modalidades de caráter universalizado, agora religiões para todos, independente de cor e geografia (Prandi, 1991), ainda que esse "todos" refira-se majoritariamente aos pobres, a persistência do sincretismo católico passou a indicar uma dependência estrutural dessas religiões para com as fontes axiológicas mais gerais referidas à sociedade brasileira. Ainda é o catolicismo que diz o que é certo e o que é errado quando se trata de pensar a relação com o outro. Quando se busca, contudo, romper momentaneamente com o código do que é certo e errado, as religiões afro-brasileiras não têm objeção a apresentar, desde que se preservem as prerrogativas das divindades. Mas a ruptura só pode ser momentânea e em casos particulares, mesmo porque qualquer ruptura definitiva acarretaria uma separação não somente no âmbito da religião, como no domínio mais geral da vida em sociedade.
Não é de se estranhar, portanto, que o culto a Pombagira faça parte do lado mais escondido das religiões afro-brasileiras, conhecido sobretudo pelo nome de quimbanda, pois as motivações básicas do culto também pertencem a dimensões do indivíduo muito encobertas pelos padrões de moralidade da sociedade ocidental-cristã. Nem é de se estranhar que tenha sido a umbanda que melhor desenvolveu essa entidade, pois foi a umbanda, como movimento de constituição de uma religião referida aos orixás e aos pactos de troca homem-divindade e ao mesmo tempo preocupada em absorver a moralidade cristã, que separou o bem do mal, sendo portanto, obrigada a criar panteões separados para dar conta de cada um. Mas se, formalmente, a umbanda separou o mundo dos "demônios", ela nunca pôde dispor deles nem trata-los como entidades das quais só nos cabe manter o maior afastamento possível, sob pena de perdição e danação eterna. Porque a umbanda nunca se cristianizou, ao contrário do que pode fazer entender a idéia de sincretismo religioso: ela reconhece o mal como um elemento constitutivo da natureza humana e o descaracteriza como mal, criando todas as possibilidades rituais para sua manipulação a favor dos homens.
Por tudo isso, diz-se que as religiões afrobrasileiras são religiões de liberação da personalidade, pois não faz parte nem de seu ideário nem de suas práticas rituais o acobertamento e o aniquilamento das paixões humanas de toda natureza, por mais recônditas que elas sejam. Isso é exatamente o oposto do que pregam e praticam as religiões pentecostais, que são o grande antagonista do candomblé e da umbanda nos dias de hoje, aponto de declararem a estas uma espécie de guerra santa que pervade, com intransigência e uso freqüente da violência física, as periferias mais pobres das grandes cidades brasileiras. (ver Fry, 1975)
Mas se as religiões afro-brasileiras são, nesse sentido, liberadoras do indivíduo, o fato de sobrevalorizarem a relação homem-entidade e darem pouca importância aos valores de solidariedade é justiça social faz com que dotem seus seguidores de uma especial abordagem mágica e egoísta do mundo, desinteressando-os da possibilidade de ações no sentido de transformação do mundo é de uma conseqüente participação política importante, num contexto como o brasileiro, para a promoção de qualquer idéia mais sólida e solidária de liberdade. (Prandi, 1993)
Na luta dos homens e mulheres brasileiros que procuram o mundo dos Exus para a realização de seus anseios mais íntimos – homens e mulheres que são em geral de classes sociais médias, baixas e pobres, quase sempre de pouca escolaridade e reduzida informação e para quem as mudanças sociais têm trazido pouca ou nenhuma vantagem real na qualidade de suas vidas –, dona  Pombagira representa sem dúvida uma importante valorização da intimidade de cada um, pois para ela não existe desejo ilegítimo ou aspiração inalcançável ou fantasia reprovável. Como se existisse um mundo de felicidade, cujo acesso ela controla e governa, que fosse exatamente o contrário do mundo frustrante do nosso cotidiano.

JOÃO CARLOS MARUJO

terça-feira, 9 de novembro de 2010

OLUBAJÉ E O SAGBEJÉ

OLUBAJÉ.... E SAGBEJÉ



  LI  ESSA MATERIA EM UM BLOG E ACHEI MARAVILHOSA,POIS EXPLICOU UM ASSUNTO NO QUAL EU AINDA NÃO TINHA DESENVOLVIDO,O SAGBEJÉ....LEIAM  E APRENDAM, POIS O PODER ESTA NO CONHECIMENTO...BOA LEITURA!!!



Autor
Baba Guido



Mo Juba Baba Omorodelomi, gbogbo ègbóm ati àbúrò mi !
Visando e primando pela perpetuação do culto as divindades de Panteão Iorubá, exponho neste tópico alguma informações acerca de Obalùàiyé, Omolu e Jagun, para darmos inicio a um intercâmbio maior sobre o conhecimento desta família da qual a denomino de Iji Jepetewu ou como mais conhecida Família Ji.
SÒPÒNNÁUma das quatro principais divindades ligadas diretamente ao Igba Odù Iwa – A Cabaça dos Odu da Existência. Entre os nagô-iorubá pònná é temível e perigoso, divindade das epidemias, sobretudo a varíola, sua maior arma de punição aos malfeitores e aqueles que o desrespeitam. As altas temperaturas corpórea, seguidas de delírios, causados pela infecção das doenças contagiosas, não são mais do que sintomas da ira de pònná contra sua vitima. Quando temos alguma razão para pensar que um enfermo esteja sob a manifestação maléfica de pònná é descrito de Ilègbóná – Varíola; Ìgbóná – Febre ou até mesmo Ilè gbígbóná – Terra quente, ou seja, “a terra aonde o enfermo encontrasse está demasiadamente quente” é a presença do Deus da Varíola e precisa ser apaziguado. Neste caso os iorubás não pronunciam mais o nome Ilè gbígbóná e sim empregam um eufemismo e dizem exatamente o contrário Ilè Tutu – O solo está frio, vertendo água de dentro para fora da casa. Terrivelmente temido, seu nome não deve ser pronunciado, sobre tudo perante aos enfermos, quando invocado é mais indicado usar nomes com expressões adulatórias, como: Obalùàiyé – Rei e Senhor da terra; Olùàiyé – Senhor da terra ou Oloòde – Senhor dos espaços abertos. Quando um enfermo padece de qualquer doença contagiosa e se crê que a causa seja pònná os iorubás descrevem a situação em términos de profundo respeito a divindade. Eles dizem Ó n sin Oba – Ele está sob a vontade do Rei; Ilè gbígbóná n bá a jà – A terra quente há posto sua mão sobre ele ou a terra quente o está afetando; Ó gb' ofá ou Ofá bà á – Ele atinge sua vítima como uma flecha ou Ele foi atingido por uma flecha. pònná é descrito como Alápó – Alguém que maneja o temor e quando um enfermo morre como resultado de sua aflições, usualmente não se diz Ó kú – Ele morreu, se diz Oba mú nló – O reio o levou ou ainda Ilè gbígbóná gbé e ló – A terra quente o levou. Os mitos relatam que em dia de sol escaldante, em especial ao meio-dia, pònná está vagando por todos os lugares e comumente se alerta a não usar o vermelho ao “sol a pino” correndo o risco de insulta-lo, do qual teriam sérias conseqüências. Deve-se ter cuidado, especialmente durante a temporada de seca, de não fazer nada que o ofenda, A sòroó pè léèrùn – Alguem cujo o nome não é propicio se chamar durante a época de seca. Os antigos entendem desta forma porque as maiorias das epidemias de varíola foram constatadas em épocas de seca, além de que os iorubás crêem que pònná esta particularmente ativo em épocas de seca. pònná é considerado feroz e muitas vezes implacável, então não insultá-lo é a melhor prevenção de não ser molestado por uma divindade tão perigosa.pònná é a única divindade de que sua vontade, qualquer que seja sua manifestação, deve ser aceita, não somente com resignação senão com uma manifestação de prazer e gratidão. Por exemplo, os parentes de alguém que morre de varíola não deve se lamentar o mostrar que choram pela morte de um ente querido. Em vez disto eles devem estar alegres e felizes e mostrar que estão amplamente agradecidos pela atitude do Rei da Terra. Assim, pònná é conhecido por Alápadúpé – Alguém que mata e se agradece por isso.
Sob seu absoluto domínio está a crosta terrestre; o solo onde o homem habita, constrói, cultiva e deposita seu cadáver após a morte; ele nutre os homens dando-lhes o milho e outros grãos do solo mas também os pune fazendo com que, através de suas peles, saiam os “grãos” que eles comeram. Filho primogênito de Nã Buku ou mais conhecida no Panteão Iorubá de NãNã Buruku. Seu maior companheiro, um ancestral denominado de Ãle que habita o lado de fora de sua casa; nada o faz sem antes prestar reverencia a ele; seu nome não deve ser pronunciado após o pôr do sol. Na crença iorubá pònná é a “Destruição que surgiu em uma noite” A ecasses de informações sobre a origem do culto o mantém na obscuridade. Isso ocorreu devido ao fato deste culto ser de caráter reservado e em épocas remotas era proibido falar sobre o assunto. Acreditasse que se trata de uma divindade estrangeira, agregada ao Panteão dos Iorubás ou do retorno de origem iorubá longínqua, levadas por uma das inúmeras migrações em direção ao oeste da Nigéria e imigrações ao país vizinho a Republica Federal do Benim, antigo Dahomé. Ao pouco que se sabe, os antigos iorubás citam que pònná teria vindo do território Fon e outros que tenha retornado a suas terras de origem, o território Iorubá... Na Cidade de Ketou há divergência de opiniões quanto a origem de pònná... alguns acreditam que tenha vindo a Ketou de Dassa Zoumé, segundo alguns, de Adja Popo, segundo outros, de Aise e uma terceira opinião de Holi... Para um melhor esclarecimento, a maioria dos estudiosos afirmam que o Culto ao Deus da Varíola, tenha sido oriundo do Leste Iorubá... Fato este que poderíamos perfeitamente perguntar: Teria pònná imigrado para o antigo Dahomé ou Sakpata imigrado para a antiga Nigéria ?Para um melhor entendimento, deveremos saber que no antigo Dahomé, existe uma divindade no Panteão Ewe Fon, denominada de Sakpata, o Vodun da Varíola... A etnia Ewe Fon e conhecida popularmente no Brasil pelo término Jeje e em Cuba por Arara... Da mesma forma que Soponná seu nome não pode ser pronunciado, seus adeptos o preferem chamá-lo de Ayinon “O dono da terra”... Sakpata pertence a primeira linhagem da família de Nyohwe Ananu uma Vodun que possui característica idênticas as de NãNã Buruku... Os nomes mais conhecidos de Sakpata no Novo Mundo são Azontunu e Avimage... Segundo reza a tradição, um grupo expedicionários da região de Savalou que estavam ao norte do antigo Dahomé, encontraram os Kadjanu (nagôs vindos da região de Badagris) em Damé, as margens do rio Wèmé, os quais o seguiram até Savalou, levando com eles sua divindade protetora dos quais denominaram em língua Fon de Sakpata Agbosu... Em Savé, afirma-se que pònná teria vindo do reino de Oyo... Essa remota origem nagô-iorubá é sublinhada pelo fato de que os Vodunsi (iniciados) de Sakpata são denominados Anagonu, que significa forasteiro de onde se originou a corruptela nagô... Em Dassa Zoumé, Soponná é conhecido por Sakpata... Os Sakpatanon grã-sacerdotes do Culto à Sakpata tinham uma grande influência sobre os realeza, porém, os reis jamais tiveram muita estima pelos sacerdotes desse culto... o mesmo culto passou por momentos de aceitação e reprovação; foi restabelecido por várias vezes e em seguida proscrito formalmente, pelo soberanos do reino do Dahomé... da mesma forma que os Oluwo Ipopo, os Sakpatanon foram mortos e muitos expulsos do território do Benim...A Medicina Tradicional de se curar a varíola denominado de Èro ou Oògùn pònná era conhecido, entre os iorubás, unicamente pelos sacerdotes de pònná, que fizeram dele grande comércio e elevaram a varíola à posição de uma divindade temível. Na qualidade de representantes do “senhor e rei da terra”, os corpos e os bens das vítimas pertenciam de direito aos sacerdotes de pònná. Esses sacerdotes mantinham em suas casas, cabaças com parte do cadáveres da vítima da varíola, tais como um braço ou pé; potes contendo um líquido escuro, feito com a água extraída do cadáver ou da água que serviu para lavar o corpo, enquanto a pessoa estava viva; recipientes com um pó escuro, proveniente das escamações secas, deixadas pela varíola. Essa água ou esse pó eram jogados, durante a noite, na frente da casa das pessoas a quem se quer infectar. Os moradores ao saírem de casa, entravam em contato com os germes. Assim que uma ou mais pessoas da família se contaminasse, a erupção da pele aparece e um sacerdote de pònná é convocado. Durante o tratamento Èbè súplicas, preces eram constantemente recitadas com a finalidade de propiciar e apaziguar a fúria de pònná. De dez sacerdotes do culto, nove ajudam mais a desenvolver a doença do que interrompê-la. Era de seu interesse agir assim, além de grandes somas que recebem, eles reivindicam todos os bens do doente, caso esse venha a falecer. Esses sacerdotes inescrupulosos, retiravam os cadáveres da casa, mas não o enterravam no bosque com de costume, a não ser joga-los no mato, onde os porcos os comiam e, algumas vezes, os pedaços do corpo eram levados para as aldeias vizinhas, contribuindo para espalhar o mal. Assim os sacerdotes faziam negócios muito lucrativos. Os sacerdotes que procediam de maneira correta, conduzia o enfermo ao templo de pònná e lá os sacerdotes os lavam com areia-de-praia quente e remédios secretos. A História dos Iorubá em meados do século XVIII, relata que um surto de epidemia da varíola dizimou a população de Abeokuta. Centenas de pessoas morriam todos os dias, metade da população fora atingida. Os governantes locais realizam uma sessão e um certo número de adeptos de pònná foram executados e outros expulsos, e suas casas incendiadas. OMOLULU OROGBO Divindade que se funde ao culto de pònná mas em muitas localidades não se confunde. A região de Kétou, cidade fronteira entre a Nigéria e o Benim, é a única região em todo o território ioruba onde Obalùàiyé e Omolu são considerados, ao que parece, como uma única divindade... Seu templo é separado de sua mãe mítica NãNã Buruku... Com essa mesma característica ele é conhecido no Brasil, onde a influência Kétou é muito grande entre os descendentes de escravos que para lá foram levados. Em Ile Ife não existe culto à Omolu e muitos ali o desconhecem. Contrário na região Mahi, onde seu culto se destinge totalmente de Obalùàiyé.... ao que se sabe, seu culto se originou do Oeste Iorubá...A tradição local da Cidade de Topli, no Togo, Omolulu Orogbo é considerado uma divindade feminina, que saiu das água segurando um sasara emblema ritualístico e em uma das mãos e um gbada – facão na outra. Este facão é uma representação do crocodilo, animal sagrado entre as divindades dos rios... Em Abeokuta Omolu é considerado um Òrìsà feminino, onde o Culto à pònná esta proibido desde 1884, divide seu templo com NãNã Buruku e a ambas as divindade, quando se oferece sacrifícios de animais não se utilizam de facas... É possível que existam duas divindades com o mesmo nome, um de cada sexo, conforme se verá... Na cidade de Abeokuta, Omolu é chamado de Olù Odò – senhor do riacho (água) e Omolu Òrìsà omi ni – Omolu é uma divindade das águas... Esse riacho é conhecido com Odomolu o riacho de Omolu e esta localizado em direção ao poente... De suma importância mencionar, que o Templo de NãNã Buruku esta voltado em direção ao poente e neste são realizados as oferendas somente ao por do sol, da mesma forma que se pratica nos Terreiros Tradicionais da Bahia... Na Cidade de Aise, existe em seu templo uma grande lança esculpida, denominada de Oko Omolu, na qual são representados por três personagens superpostos, representando Òsumare, o próprio Omolu e Iroko... Em Dassa Zoumé Omolu é duplo, masculino segurando um facão e feminino segurando um abebe – leque e um irukere – rabo de cavalo... Seu culto foi trazido de Aja Aguna e agregado em Dassa Zoumé na época do Rei Onigbo – quarto soberano de Dassa Zoumé...Nas proximidades de Atakpamé, cidade do Togo onde existe um dos principais templos de NãNã Buruku, em uma aldeia igualmente chamada de Adja Agouna, existe um templo dedicado à Omolu Arawe uma divindade masculina... em outra aldeia da região, conhecida por Gbekon, encontra-se um templo de sua contrapartida feminina, denominada de Omolu Idji Aguna... Nesta região ambos os Omolu são divindades totalmente distintas de Soponná e o sacrifícios de animais à Omolu Arawe e Omolu Idji Aguna são realizados sem que se utilize uma faca para imolar o animal... seus interditos são o vinho de palmeira no que se diferencia de Obalùàiyé onde são ofertado este tipo de vinho... SASARA OWOO emblema ritualístico mais importante do Culto à Obalùàiyé e Omolu é denominado de Sasara-owo. Trata-se de um atado de nervuras de folhas da palmeira; revestidos de tecidos e palha da costa; ornamentados com uma grande quantidade de búzios, ostentando opulência e as mais diversas contas; onde dentro deste acomoda-se um de seus maiores enigmas, o segredo da vida e da morte, a cura ou a proliferação das doenças, sobretudo as que alteram a temperatura corporal do enfermo. Os feixes dentro do corpo do Sasara representam coletivamente os ancestrais, os mortos contidos na terra. Devem ser confeccionados por um sacerdote altamente qualificado, preparado para manipular representações tão poderosas. Tem a finalidade de controlar os Espíritos da Terra para o seu espaço sagrado, eliminar as energias negativas da comunidade, sobretudo as doenças, proporcionando a longevidade. Nele esta o segredo da vida e da morte, a cura ou a proliferação das doenças, sobretudo as que alteram a temperatura corporal do enfermo. Quando as doenças são liberadas do Sasara, este tem como desígnios divinos ou punição de uma comunidade no intuito de uma renovação de vida. Em algumas linhagens o Sasara de Omolu se diferencia ao utilizado por Obalùàiyé do qual contém um detalhe a mais, a ponta de uma lança em sua extremidade e suas cores são características, o preto e o branco.[Image]Wárin WarifunSasara Ile wò
Olorinjena wòWárin WarifunSasara Ile wòOlorinjena wò
Homenagear um Rei ou Superioro Sasara na casa cuida de um doente”
AJAGUN AGBAGBAAjagun ou simplesmente Jagun é uma divindade guerreira, originário de Ekiti Ifòn, pois acreditasse que seja filhos de um dos Òrìsà Funfun... ao que se sabe é considerado um Guerreiro Branco... Considerado invencíveis, por sua bravura e coragem, nunca perdeu uma batalha, o que lhe deu o título de Keledjegbe – O Guerreiro Invencível...Os mitos relatam que Ajagun Agbagba liderava um exército, afim de invadir Osogbo – Cidade da Divindade Òsun... As Ìyámi Àjé vendo os homens em direção a cidade, avisa Òsun, que de imediato consulta o oráculo de Ifá e este prescreve que deva ser realizado uma oferenda ao Òrìsà Funfun da cidade... Òsun recolhe e oferece a oferenda... com as cascas dos caracóis, Òsun prepara um pó bem fino que é acrescentado ao pó das Ìyámi Àjé... no momento da invasão as Àjé através de seu poder de Eleye lançam o pó em direção ao Guerreiro e seus seguidores, tornando-os cegos... indefesos a é poupada de seus ataques... Cego e desorientado Jagun passa a vagar sem destino até chegar em terras longinqua é acolhido por um antigo povo, onde se depara com Òsányín, que através de sua magia recupera a visão de Jagun... Ao retomar a visão este se da conta que esta na Cidade de Ijena, terras do temível Soponná... em agradecimento ao povo que lhe acolheu, Jagun passa a ser agregado a família de Obalùàiyé tornando-se um dos guardiões do culto...Importante mencionar que a cidade iorubá Ijena ou Jena foi fronteiriça com o antigo Dahomé e outrora um dos grandes centro de contacto e aculturação entre duas das maiorias etnias da África os Ewe-Fon e os Yorubá... Em território iorubá o descrevem segurando uma lança – Okò em uma das mãos e um facão – gbada na outra... sua cor predominante é o branco e seus interditos são o vinho de palmeira, cabe ressaltar que o vinho-de-palma é tabu para todas as divindades da família de Òrìsà-Nlá....Nos Terreiros Tradicionais, Jagun é acomodado em cuscuzeiras de barro branco, veste-se de branco, porta uma lança de metal branca, mas não utiliza o Àso Òdùn denominado de Azen para cobrir o corpo e não tem direito de carregar o Sasara-owó, o único entre eles que tem cânticos específicos para guerrear...CONCLUSÕES Não poderia nos tempos de hoje chegar a uma conclusão definitiva a não ser a maiores questionamentos, sobre esses diversos aspectos de Obalùàiyé, Omolu e Jagun:Duas divindades de origem diferente e pertencentes a antigos grupos culturais diferentes, divindades essas que vieram uma do leste ( pònná) e outro do Oeste (Omolu), unindo e assumindo um caráter único em Ketou ?Trata-se de uma divindade única, de origem iorubá e de origem Tapa (Nupe) mais longínqua, trazida para o oeste por uma das numerosas e antigas migrações que as tradições mencionam, e do retorno, em seguida, dessa divindade para seu ponto de partida, trazendo um novo nome, que originalmente, não passava de simples epíteto ?Seria Omolu Idji Aguna divindade feminina que saiu das águas a conhecida Yyógbáyin já que à ambos não se realizam sacrifícios com faca ?E quanto a Jagun, seria este Omolu Arawe divindade masculina, baseando-se pelo fato de ambos portarem um facão em uma de suas mãos ?A grande lança na entrada do Templo de Omolu Arawe na Cidade de Aise, não poderia ser a lança de Jagun ?Existem muitos mistérios em nossa sagrada religião que jamais serão revelados. As vezes penso que nossa religião precisasse das Areias do Tempo a mítica ampulheta que permitia viajar pelo tempo para alterar a própria linha do tempo ou trazer o que quiser de qualquer época para o presente.
Baba Guido

Editado por Baba Guido - 07 Fev 2010 às 10:46














A Cerimônia do Olùbàjé é de exclusividade do afro-brasileiro, assim como “As Quartinhas de Oxóssi”, “Os Pratos de Nàná”, “A Cabeça do Boi”, “O Cordão de Ibejí” e outras mais... Em território iorubá, não existem esses tipos de festividades e muitos dos mitos existentes em nosso país, são para justificar a sua suposta origem.
O Olùbàjé foi realizado ainda na época do Terreiro da Barroquinha, depois que a primeira ìyáwò foi iniciada e consagrada à Obalùàiyé. Este caminho de Obalùàiyé vistia-se de preto e sua palha-da-costa era de tonalidade escura, após o término da “festa” suas roupas não podiam ser guardadas a não ser queimadas. Esta cerimônia, que durava naquela época 14 dias, foi introduzida na ritualística com a finalidade de prolongar a vida, afastando as doenças e trazendo saúde a todos os membros da comunidade-terreiro.
A palavra Olùbàjé designa o ritual onde são servidos alimentos aos participantes em uma verdadeira comunhão com o Deus da Varíola. A mesma palavra, com gráfias diferentes Olùbáje nos leva a um outro significado “Senhor da Putrefação”, um dos títulos de Obalùàiyé visto que as doenças sob seu dominio fazem com que suas vitimas apodreçam ainda em vida.
Muito tem se discutido a quantidade de iguárias que devam ser oferecidas durante a cerimônia... em meu conhecimento são num total de 21 comidas, 7 de caráter publico e 14 de caráter privado, que permanecem em uma esteira dentro do Quarto de Santo. As de caráter publico são:
Feijão fradinho cozido e refogado Feijão preto cozido e refogado Milho de galinha cozido em água com sal acaça branco Milho de canjica branco cozido acarajé carne da matança cozida e refogada




















SAGBEJECerimônia afro-brasileira, onde as mulheres em um tabuleiro forrado com milho-alho estourados, das quais elas denominam de “flor do velho”, carregam o principal emblema de Obalùàiyé o Sasara-owo seus colares de conta, terra-cota, corais e búzios. Este “tabuleiro” a representação mítica desta divindade, visita sete Terreiros diferentes durante os sete dias que antecedem os Ritos do Olùbàjé. Ao chegar a cada Terreiro, este será recebido ritualisticamente onde serão entoadas orações e rezas à Obalùàiyé e Nàná. Durante este ritual, será depositado aos pés do tabuleiro, senão aos próprios pés de Obalùàiyé grãos e uma quantia em dinheiro que serão de uso exclusivo nas despesas do Olùbàjé. Cada membro do Terreiro receberá uma porção de gbùgbùrù (pipoca) e desta saberá como proceder.Interessante notar que a palavra sagbe – significa pedir esmola e a palavra je – comer; então a palavra sagbeje poderia perfeitamente ser interpretada como “pedir esmolas para comer”. Obviamente que não podemos levar a palavra “esmola” num sentido pejorativo e sim entender que há uma troca entre o homem e a divindade. Troca esta que ao darmos grãos e dinheiro para comprar “comida” para “O senhor da terra” este nos dá um de seus principais grãos que nutrem o homem – o milho. Os antigos dizem que aqueles que participam do terão vida próspera e nunca há de faltar comida em casa, pelo menos os grãos.Quando da Cerimônia do Olùbàjé este “tabuleiro” será apresentado no salão, carregado por Oya, onde será distribuído uma porção de gbùgbùrù e muitos que recebem o milho, em gratidão acabam por depositar algumas quantias em dinheiro sobre os grãos. Em algumas linhagens o sagbeje sai antes da “mesa” e em outras depois da “mesa”.Por favor não confundam o sagbeje com aquelas pessoas vestidas de baiana que ficam com uma peneira em pleno sol do meio dia, distribuindo milho de pipoca americano e arrecadando dinheiro. Este tipo de procedimento nada tem haver com a nossa ritualística.
O sabejé é o ato onde Oyá sai com o balaio de pipocas, e as pessoas vão colocando dinheiro em troca de um punhado de pipoca. Porém o sabejé é muito mais do que isso, ele significa a submissão e o sacrifício em nome do orixá, e nos dias de hoje muitas pessoas não sabem que antigamente os filhos de santo no mês de Agosto, saiam realmente as ruas para pedir dinheiro  para poder fazer o olubajé.










AFONJÁ.....O DEUS DO SEU POVO!!!








O Orixá[orisá] são para os africanos sua maior significação totêmica. Oyó-capital da nação yorubá-nome da primeira tribo de Oduduwá-fundada por Oraniyan, filho de Okambi, neto de Odudwá,foi a primeira cidade fundada após ILÊ IFÉ,  que foi fundada pelo próprio Odudwá, passando a ser a capital política da nação.Dahomé, ex nome do país que hoje é chamado de Benin, antiga terra dos fulanis, origem da cultura gege na África ocidental.  Literalmente Dahomé significa :Coroação das cobras. As culturas chamadas ewe,fon, mahi,dagomé,mina fanti e etc são originárias de Dahomé,dono de um dos mais poderosos exército africano e o maior conhecimento de magia.O termo ORIKI determina a fundação ou origem de um africano[yorubano], sendo de grande importância para se traçar a árvore genealógica. ORIKI não é um nome e sim a própria origem familiar ou totem. O real significado do termo ORIKI esta perdido no tempo,mas pode-se atribuí-lo ao principio da implantação da cultura yorubana ou nok, em 600 A.C . A maioria de um ORIKI esta ligado a algum mito,divindade ou objeto, que significa ou significou em algum tempo algo ligado a esta divindade,que por sua vez estava ligada a esta ou aquela família.Dentro dos ancestrais de família das mais altas hierarquia da cultura gege nagô, que foram por obra do destino trazidas para o Brasil,devida as corrupções de certas tribos e reinos,provocada pelo desmantelamento das culturas por meios de escabroso comércio de cativos,oriundos de guerras intertribais elaboradas pelos portugueses, sob a promessa de mútua divisão de impérios[europeus-africanos] entre as duas raças, com o objetivo de reestabelecer vários títulos,cargos,nomes,sobrenome e totens. Familiares de membros de diversas castas de grupo étnico , africanos trazidos para o Brasil, os estudiosos e pesquisadores da cultura africana resgataram aos descendentes de africanos, os nomes e palavras para auxilia-los nas pesquisas da suas raízes familiares, os nomes[LARIS]pertencem as famílias dos sacerdotes e ministros do vários Reis do grupo gege,yorubá,nagô  etc..... Yorubano destacamos  AFONJÁ LAIYA LOKÔ  DE  ILORIN, que expandiu seu méritos e atos heroícos para o Brasil e que é cultuado numa das mais respeitadas casa de candomblé da Bahia:ILÊ AXÊ OPÔ AFONJÁ!!!   Afonjá morreu na batalha de ILORIN,atacado pelos fulanis,que após dez anos conseguiran sua vitória.Pelo fato de Afonjá ter morrido a permanecido de pé após levar 400 flechadas,criou-se o mito da sua imortalidade.Tal fato repetiu-se 200 anos depois, na morte da GANGAZUMA, no quilombo do Macaco,no Brasil. Os habitantes de ILORIN,prisioneiro dos fulanis,foram levados em cativeiros para a capital invasora, no entanto uma velha profecia previa que: Quando os escravos tornassem mestres, uma revolta eclodiria.Assim os yorubás, uniram-se em torno do fato e pedindo a Afonjá proteção, atacaram os fulanis,expulsando-os do território ocupado, na batalha de Pamó, mas a imagem de Afonjá crivado de flechas ficou na memória de seu povo. E isto fez surgir um culto que o tornou o orixá da justiça.simbolo de Xangô e seus descendentes foram trazidos para o Brasil, trazendo com eles seu culto e sua história.... A HISTÓRIA DE AFONJÁ , O DEUS DO SEU POVO!!!






..... A IMPORTÂNCIA DO OVO NO CANDOMBLÉ.....




             O ovo é o principal e maior símbolo da fertilidade, utilizado amplamente nos rituais de purificação, iniciação, Borí e èbós de propiciação e defesa. Existem vários contos de Ifá relatando a grande importância do Ovo. Uma delas conta que, Òlódúnmàré (Deus) estava para dar origem ao universo, tinha num pote de barro “4 Ovos”, com o ovo deu origem primeiramente a Òòrìsànlà-Òbátálà surgindo na explosão da luz sem forma quando literalmente Deus disse haja luz assim Òòrìsànlà surgiu no mundo, com o deu origem a Ògún a forma, o deu origem a Òbálúwàiyé a estrutura, o ovo acidentalmente caiu de sua mão estourando no chão revelando sua riqueza originando assim a primeira mulher universal chamada Ìyàmi-òsòróngà, expondo o segredo de sua riqueza para o grande pai, ou seja, mostrando seu poder de fertilidade e sobrenatural exposto a olho nu diante do Deus Supremo, nascendo assim, a fonte mantenedora da vida o Ovo possui três diferente cores associado as cores principais e primordiais do universo; o ovo de casca azul representando a cor preta relacionada ao “Aba” = a escuridão as trevas das profundezas da terra e mares, o ovo de casca branca relacionada ao “Iwà” = a explosão da luz, e finalmente o ovo de casca vermelha relacionada ao “Àsé” = fogo mantenedor da fertilidade totalmente relacionado ao poder sobrenatural. Seu conteúdo possui diversas características, o qual na maioria das vezes é branco, frágil e oval. Dele nasceu um novo ser, associado a idéia de que o universo surgiu primordialmente dele próprio, na forma de um protótipo do mundo. Como um filho de asas negras = ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ que foi cortejada pelo vento = ÒÒRÌSÀNLÀ-ÒBÁTÁLÀ. O ovo é uma célula reprodutora feminina dos animais chamada macro-gameta, ou seja, rudimento de um novo ser organizado, primeiro produto do encontro dos dois sexos, pelos quais desenvolve a possibilidade de existência do fato. Germe, origem, princípio. Uma imagem viva do grande mundo (O Universo), em oposição ao microcosmo (o homem). O Ovo é resultante da composição e fecundação de óvulos, possuindo 4 partes; a 1º parte é a casca que representa o útero (invólucro mítico), a 2º parte é membrana interna que representa a bolsa, placenta uterina (parede defensora), a 3º parte é a clara, matéria viscosa e esbranquiçada, do grupo das proteínas que representa o útero, a 4º parte é a gema amarela, parte intima, central e globular suscetível de reproduzir, a qual representa o feto, um novo ser engendrado preparado para nascer e autuar no que for necessário.

O mito do ovo está presente em todas as culturas antigas, entre elas a Yorubà, Polonesa, Fenícia, Chinesa, Eslava, Polinésia, Finlandesa, Hindu, Germânica, Hebraica entre outras. A força germinal contida no ovo, esta associada à energia vital com grande desenvolvimento através de èsú, motivo pelo qual, tanto o ovo como
Èsú, desempenha uma função importantíssima no culto Yorubà principalmente no culto de ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ, ÒSÚN, IYEWÁ, OYÀ, ÒMÒLÚ e etc...
Confirmando um total culto à fertilidade, magias curativas, purificando e quebrando as forças maléficas. A gema, sangue germinal unida à clara para obter nutrientes e hidratação necessária, transformados num único ser vivo individual no interior do ovo, plagiando o mesmo processo no interior do útero, que indiscutivelmente é o mesmo processo que acontece nos rituais, numa mesma idéia de união do casal universal; Òòrìsànlà-Òbátálà e Iyémowo. Só o que no contexto do ovo, acontece mais rapidamente não existindo nenhum tipo de vinculo biológico entre a mãe e o filho, ou seja, não existe cordão umbilical. Isto explica o poder contido no ovo por si só, o qual foi um elemento criado diretamente pelo todo poderoso Òlódúnmàré (Deus), que colocou primeiramente o Ovo no mundo, logo depois surgindo dele a vida, ou seja, a ave. Por isso, o ovo é um elemento originado do criador, o símbolo mais importante representante do poder de ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ a mãe universal que necessita intrinsecamente do poder masculino de ÒÒRÌSÀNLÀ-ÒBÁTÁLÀ, o qual faz o ovo um elemento de muito Àsé (poder realizador).     O ovo é utilizado amplamente nos rituais sob várias formas depois de encantados por palavras mágicas; na finalidade de neutralizar o mal, purificar a cabeça de um Iyawó antecedendo a iniciação, purificar a cabeça das que habitualmente irá receber sacrifícios no Orí, antecedendo o borí, purificar o caminho de pessoas que tem obstáculos na vida, tirar problemas de confusão, purificar uma pessoa com maus espíritos, tirar doença de mulheres e bebes tirar a Ikú das ou do caminho de alguém. O ovo e também utilizado nos rituais de propiciação; na finalidade de obter fertilidade, atrair dinheiro, produtividade nós negócios e apaziguamento de certa situação quando utilizado em èbós de seu a ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ. O ovo quando cozido não possuindo mais então é utilizado inteiro sobre as oferendas das divindades, tendo somente a função de neutralizar doenças negativas. Já quando cozido e esfarinhado misturado ao “EKURU” também esfarinhado, este tipo de comida é utilizada para espalhar sobre o solo da casa de òrìsá, na finalidade de agradar os “AYES” (espíritos que residem na terra) espantando o mal ou neutralizando as energias negativas, quando é invocado neste ritual; os AYE sob o domínio de Ìyàmi-òsòróngà, Èsú e Òbálúwàiyé, assim propiciando abundancia e prosperidade para casa.O ovo cru com seu frescor, quando utilizado inteiro em oferenda tem a função tranqüilizar e refrescar. Por isso, é comum vermos muitos ovos crus depositados no chão aos pés de certos Ajùbò (assentamentos dos òrìsas) na finalidade de atrair abundancia e proteção, fazendo todas as divindades compreenderem perfeitamente que o èbò é uma súplica de fertilidade, germinação de filhos, dependendo da atuação da Divindade, ela não só atuará no tocante a fertilidade no útero, mais também propiciaria dinheiro, sorte, saúde e desenvolvimento na vida, por ser ovo um agente naturalmente fértil. Já os ovos crus, quando “quebrando” diretamente passando na cabeça, têm a função poderosa de purificar e livrar até 80% qualquer tipo de feitiço ou qualquer outro tipo de negatividade que esteja sobre o Orí de uma pessoa. Quando num èbò ovos crus são atirados no chão ou quebrados encima do corpo de uma pessoa num sacrifício de purificação vulgarmente chamados de descarrego, é na finalidade de desobstruir os caminhos tirando as dificuldades da vida ou qualquer espírito de força contrária que esteja acoplado no corpo (obsessores). Ao ser quebrado ele revela sua riqueza e seu poder tanto sobrenatural como concreto, pois no exato momento que é quebrado, o ovo não terá mais a possibilidade de germinar, ou seja, nascer algo dele, assim num tipo de substituição ou troca matará o problema que aflige uma pessoa possibilitando o fim de algo ou de uma situação negativa. Por este motivo que o ovo cru deve ser quebrado principalmente no Òrí de uma pessoa, numa preparação da cabeça que logo depois irá levar ritos sacrifica-tórios; começando pelo 1º sangue negro o Agbo-tutu (sumo de ervas fresca) em seguida o sangue vermelho de aves ou quadrúpedes e finalmente o sangue branco do igbin (caracol) que é espremido por cima de tudo, assim purificando, possibilitando a existência da força sobrenatural, acalmando e fertilizando a cabeça que esta no momento recebendo o puro ase , com a união dos três sangues primordiais após ter sido purificada com o ovo cru, possibilitando a pessoa obter sorte, dinheiro, felicidade, fertilidade, saúde e tranqüilidade. Quando um ovo é quebrado em qualquer ritual, o nome Ìyàmi-òsòróngà é respeitosamente citada e reverenciada, porque qualquer que seja o ovo lhe pertence, como relata vários Itãn-Ifá. Quebrar um ovo na rua (atirando no chão) pela manha por três ou sete dias consecutivos, chamando Èlegbara e Ìyàmi-òsòróngà e espargindo dendê por cima do ovo cru, este, é um simples e poderoso ritual do culto de Ìyàmi-òsòróngà, o qual tem a finalidade de afastar qualquer tipo de dificuldade ou prejuízo acalmando qualquer energia avessa do caminho de uma pessoa.          Como relata ifá, o ”Ovo de pato” é o símbolo da vida e umas das proibições de Ikú (morte), a utilização do ovo de pata cru, é essencial principalmente em certos rituais e seu, com finalidade de quebrar a força da morte, doença e perdas, assim uma pessoa sairá vitoriosa obtendo longevidade, saúde e ganhos. Quando cozido e esfarinhado é utilizado como agente purificador passando pelo corpo de uma pessoa em èbós de Egungun ou Onilé (para dentro da terra), também como casca e tudo é transformado a pó (seco ao sol) utilizado no igbà-Orì e assentamentos dos Òrìsá de relação com ikú Ex: Èsú, Ògún, Òbálúwàiyé, Iyewá, Òmòlú, Erinlè, Ibeji, Sàngó, Oyà, Iyémowo, Òòrìsànlà, Ajaguémó, Iroko, Yòbá, Onilé, Egungun e Gèlèdè.         Como relata Ifá, o único Òrìsá que não possui relação com ikú é o òrìsá Òsún, por ela não aceitar qualquer relação com situação de morte, também não aceita que os animais em seu culto sejam sacrificados (mortos) encima de seu Okuta. Por motivo não admiti a utilização de qualquer utensílio de cor escura, marfim, osso, buraco, agressividade e doença, os quais possuem totais relações com a morte. Isto também explica o porquê Òsún não aceita que suas filhas morram facilmente, assim Òsún os protege dando longa-vida numa ação de prolongar o Maximo o contato com a morte, todos esses aspectos de Òsún estão relatados nos Itãns do Odu Ósé.Assim, o ovo de pata é amplamente utilizado nos “Èbós–Aiku” (sacrifício de longevidade) tirando qualquer tipo de morte, seja material, espiritual, financeira ou sentimental.          Fica claro que o ovo utilizado na casa de Òrìsá é um elemento de Ìyàmi-òsòróngà sendo um utensílio de muito àsé.
Classificação dos Ovos

Ovo de galinha cru
– purifica e tranqüiliza. Ovo de galinha cozido – tirar doenças.Ovo de galinha esfarinhado – neutralizar negatividade do ambiente, atrair prosperidade e abundancia
Ovo de pata cru
– enfraquece a força da  morte, doenças graves e perdas.

Ovo de codorna
– Neutraliza feitiço.

Ovo de D’angola
– propicia dinheiro, sorte, prosperidade riqueza e sucesso nos negócios
Ovo de pombo
– propicia tranqüilidade e fertilidade.